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quarta-feira, junho 11, 2025

Bono: as canções dos U2... e mais além

Bono como cantor e actor da sua própria história

Redescobrimos Bono como cantor dos U2 e actor da sua própria vida: filmado no palco do Beacon Theatre, em Nova Iorque, Bono: Stories of Surrender (Apple TV+) supera os limites do tradicional “filme-concerto”; a realização é de Andrew Dominik, o cineasta de Blonde — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 maio).

Decididamente, na maior parte das plataformas disponíveis em Portugal, a arte de dar títulos aos filmes não é questão prioritária. O exemplo de Bono: Stories of Surrender aí está para ilustrar a indiferença com que, tantas vezes, o assunto é encarado. Assim, o filme foi lançado na Apple TV+ como Bono: Histórias de Surrender.
“Histórias de Surrender”? Acontece que, em 2022, o vocalista dos U2 lançou uma autobiografia intitulada Surrender: 40 Songs, One Story — a edição portuguesa, também de 2022, com chancela da editora Objectiva, chama-se Surrender: 40 Canções, uma História. Além do mais, as memórias de Bono estão interligadas com a edição, em 2023, de um álbum dos U2, Songs of Surrender, revisitando, precisamente, com novos arranjos, alguns dos seus temas mais emblemáticos.
Dito de outro modo: não é fácil traduzir ou contextualizar o verbo “surrender”. No caso do filme, talvez esta fosse uma das excepções em que, serenamente, mais valia manter (todo) o original, evitando a confusão adoptada. Até porque, de facto, o verbo emerge em várias significações que pontuam o concerto que constitui a matéria viva do filme realizado pelo neo-zelandês Andrew Dominik.
O significado de “render” ou “rendição” (imediatamente evocado por “surrender”) é escasso para dar conta daquilo que está em jogo — e que, importa sublinhar, se revela vital no discurso de Bono ao longo de todo o concerto. Este é mesmo um daqueles casos em que nenhum verbo português parece poder abarcar a pluralidade de sugestões e significações do original. Porquê? Porque a “rendição” de que aqui se fala não se confunde com a entrega a um poder superior. O que Bono descreve, comenta e canta é a sua capacidade de, finalmente, lidar com as convulsões de toda uma vida. Trata-se, primeiro, de reconhecer ilusões e equívocos, desembocando na capacidade de os colocar lado a lado com as alegrias vividas — humildade e aceitação são, assim, os temas aglutinadores destas Stories of Surrender.
A noção corrente de “filme-concerto” é, por isso, insuficiente para dar conta daquilo a que assistimos. São vibrantes e contrastadas as memórias que se cruzam — do nascimento dos U2 até à sua condição de banda “mainstream” (de acordo com o termo que o próprio Bono aplica), passando pelas palavras e, sobretudo, os silêncios da sua difícil relação com o pai. São matérias de uma teatralidade feliz, com o palco do lendário Beacon Theatre, na Broadway (sala inaugurada em 1929), a transfigurar-se em lugar de muitas evocações minimalistas, no limite bastando uma cadeira e um foco de luz. Sem esquecer que tudo isso se intensifica através da poesia primitiva das imagens a preto e branco, assinadas por Erik Messerschmidt (“oscarizado” em 2021 pela direção fotográfica de Mank, de David Fincher).

Andrew Dominik
Andrew Dominik, cineasta

Com a realização de Bono: Stories of Surrender, Andrew Dominik merece que o encaremos para lá da condição de funcionário versátil que, por vezes, tende a resumir o seu trabalho. Lembrando, antes do mais, que na sua filmografia encontramos uma importante ligação com as matérias musicais: são dele os documentários One More Time with Feeling (2016) e This Much I Know to Be True (2022), ambos sobre Nick Cave.
Depois da estreia na longa-metragem, com o policial Chopper (2000), uma produção australiana, Dominik assinou dois títulos capazes de reimaginar as regras clássicas dos respectivos géneros: um western, O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford (2007), e um thriller, Mata-os Suavemente (2012), ambos protagonizados e produzidos por Brad Pitt. Finalmente, o seu retrato trágico de Marilyn Monroe, Blonde (2022), com Ana de Armas, a partir do romance de Joyce Carol Oates (de novo com produção de Brad Pitt), confirmou-o como um invulgar arqueólogo das mitologias do espectáculo.

terça-feira, junho 03, 2025

Bono em palco e em filme

Bono sem os U2, mas contando histórias que passam necessariamente pelos U2: Bono: Stories of Surrender [Apple Tv+] é um filme-concerto, mas também um acto confessional cruzado com o gosto teatral de assumir e partilhar o seu "eu". Baseado na sua autobiografia, com realização de Andrew Dominik, eis um magnífico evento de palco que possui a energia, e também a poesia, de um gesto genuinamente confessional.
 
>>> Trailer + The Showman.
 


quarta-feira, dezembro 18, 2024

Patti Smith
— uma canção dos U2

Na sua conta da plataforma Substack, Patti Smith dá notícias do livro que está a escrever, partilhando uma sua performance ao vivo, com Tony Shanahan no piano — é um tema dos U2, Love is all we have left, do álbum Songs of Experience (2017).

A song for you by Patti Smith

love is all we have left

Read on Substack

sexta-feira, março 17, 2023

Bono e The Edge na NPR

Eis uma especialíssima edição dos "Tiny Desk Concerts" da NPR: Bono e The Edge interpretam quatro das canções dos U2, do álbum All That You Can't Leave Behind (2020), agora revistas e reinventadas para o recente Songs of Surrender. Com eles está o Coro da Duke Ellington School of the Arts, com este alinhamento:

* Beautiful Day
* In a Little While
* Stuck in a Moment You Can't Get Out Of
* Walk On

sábado, janeiro 07, 2023

Eddie Vedder canta One

Eis uma bela memória da mais recente cerimónia de homenagem do Kennedy Center a personalidades do mundo das artes — foi no dia 4 de dezembro. Consagrados pela sua carreira foram: George Clooney, Amy Grant, Gladys Night, Tania León e ainda Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., isto é, os U2.
Entre os momentos fortes — é sempre um evento em que sobriedade e alegria, pensamento e espectáculo se cruzam de forma contagiante —, será forçoso destacar a interpretação de uma das canções mais emblemáticas dos U2, One, por Eddie Vedder [video]. Sem esquecer que, depois dos anos em que Donald Trump quebrou a tradição, não aceitando o convite do Kennedy Center para acompanhar a cerimónia, Joe Biden não faltou.

domingo, novembro 06, 2022

Bono, With or Without You

Surrender: 40 Songs, One Story, assim se intitula o livro autobiográfico de Bono. Convidado de Stephen Colbert em The Late Show, Bono apresentou-o através de uma canção emblemática dos U2 — With or Without You, do álbum The Joshua Tree (1987) —, combinada com versos provenientes do próprio livro. Um grande momento de televisão, aqui em paralelo com o teledisco original da canção.



terça-feira, dezembro 28, 2021

Scarlett Johansson & Bono

Entre as "velhas" canções dos U2 que reaparecem na banda sonora do filme Cantar! 2, o caso de I Still Haven't Found What I'm Looking For é, talvez, o mais surpreendente. Para a recriação do seu romantismo dançante reuniram-se as vozes de Scarlett Johansson e Bono, numa cumplicidade realmente espectacular — eis o resultado, recordando o original, do álbum The Joshua Tree (1987).
 


quinta-feira, novembro 18, 2021

"Achtung Baby", 30 anos

O sétimo álbum de estúdio dos U2, resultado de uma aventura berlinense logo após a Queda do Muro, surgiu no dia 18 de novembro de 1991 — Achtung Baby faz hoje 30 anos.
Referência nuclear na evolução da banda de Bono (voz, guitarra), The Edge (guitarra, teclados, voz), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria, percusssão), ficou também como símbolo da capacidade de transfiguração de matrizes clássicas do rock, agora abertas, não apenas a influências paralelas, incluindo matrizes dançáveis mais ou menos electrónicas, mas também às atribulações do universo audiovisual.
Tudo isso, obviamente não por acaso, desembocaria na revolucionária teatralidade da Zoo TV Tour (que passou por Lisboa, Estádio de Alvalade, 15 maio 1993, já no formato "Zooropa"). Escute-se e reveja-se os sinais dessa exuberante dinâmica criativa nesta breve memória: Even Better Than The Real Thing, em teledisco assinado por Kevin Godley.

sexta-feira, novembro 22, 2019

Nova canção dos U2

Ahimsa — assim se chama a nova canção dos U2, fabricada com a colaboração do músico indiano A.R. Rahman, vencedor de dois Oscars, música e canção, com o filme Quem Quer Ser Bilionário? (2008). Contando com as vozes das duas filhas de Rahman, Khatija e Raheema, é a primeira composição da banda de Bono desde o lançamento do álbum Songs of Experience (2017) — em sânscrito, ahimsa significa "não-violência".

quinta-feira, dezembro 07, 2017

Que está a acontecer aos U2?

Subitamente, Bono aparece de megafone no Saturday Night Live [video], liderando os U2 em American Soul, uma das novas canções da banda — e tudo aquilo parece, não apenas musicalmente débil, mas inapelavelmente falso... Que está a acontecer aos U2? Porque é que toda a expectativa positiva em relação ao novo álbum, Songs of Experience, se desfaz perante a académica "revisão da matéria dada" que nos é proposta?
Dir-se-ia que cada uma das canções do álbum, da balada à celebração épica, não consegue aguentar a comparação com outros temas que, ao longo das décadas, os U2 assinaram. Na sua ambição de hino de estádio (“You! Are! Rock’n’roll!”) não é America Soul uma triste variação da energia musical de Where the Streets Have No Name, além do mais com uma imaginação poética claramente menor? E a singeleza de Summer of Love não está a anos-luz da vibração interior de digressões intimistas como One ou The Fly?
É bem verdade que Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. não podem andar toda a vida a tentar refazer Achtung Baby (1991). Aliás, não é esse o problema e ninguém irá proclamar que, de repente, o colectivo perdeu talento e know how. O problema é que, depois da longa e insólita gestação que se seguiu a Songs of Innocence (2014), Songs of Experience parece esgotar-se num grito de desespero: "Reparem que ainda somos os U2..." Não era preciso avisarem-nos — só esperamos que o sejam mesmo, em vez de imitarem aquilo que o marketing definiu como a sua imagem de marca.


>>> Site oficial dos U2.

quarta-feira, novembro 01, 2017

Novo álbum dos U2 a 1 de Dezembro

Eli Hewson e Sian Evans: os seus pais são, respectivamente, Bono e The Edge. E esta fotografia, assinada por Anton Corbijn, será a capa de Songs of Experience, 14º álbum dos U2, a lançar no dia 1 de Dezembro. Com as notícias, incluindo o calendário de uma nova digressão [eXPERIENCE + iNNOCENCE Tour], surgiu também mais uma canção, das 13 que constam no alinhamento do álbum — já conhecíamos You're the Best Thing About Me; eis agora o som de Get Out Of Your Own Way (com a colaboração de Kendrick Lamar).

domingo, outubro 22, 2017

U2 na FNAC — três canções

Eis um breve resumo (audiovisual) da sessão SOUND + VISION, dedicada aos U2, na FNAC do Chiado:
I Will Follow, do álbum Boy (1980), primeiro teledisco da banda, dirigido por Meiert Avis;
Night and Day (Cole Porter), do projecto Red + Hot Blue (1990), video de Wim Wenders;
Ordinary Love, da banda sonora de Mandela: Longo Caminho para a Liberdade (2013), performance em The Tonight Show, de Jimmy Fallon, com a participação de The Roots.





sábado, outubro 21, 2017

U2: inocência e experiência
— SOUND + VISION Magazine [hoje]

Estaremos hoje, dia 21, na FNAC para uma sessão dedicada aos U2. Pretexto imediato: o lançamento do seu 14º álbum de estúdio, Songs of Experience, registo que "completa" o anterior Songs of Innocence (2014). Programa de trabalho: percorrer as quatro décadas de carreira da banda irlandesa, revisitando sons e imagens, canções e concertos.

* FNAC: Chiado, hoje (18h30)
* * * * *

>>> Lyric video de You’re The Best Thing About Me.

quinta-feira, março 09, 2017

"The Joshua Tree", 30 anos

Where the Streets Have No Name, I Still Haven't Found What I'm Looking For ou With or Without You — são temas emblemáticos do quinto álbum de estúdio dos U2, The Joshua Tree. Contando com as colaborações preciosas de Brian Eno e Daniel Lanois, a banda irlandesa entrava, assim, no espaço americano, de alguma maneira reescrevendo a sua própria história através da geografia cultural made in USA. Nessa perspectiva, o extraordinário teledisco de Where the Streets Have No Name, dirigido por Meiert Avis, envolvia um especial simbolismo: Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. ocupavam o espaço urbano de Los Angeles para uma genuína celebração musical.
The Joshua Tree foi lançado a 9 de Março de 1987, faz hoje 30 anos.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

Os melhores álbuns de 2014
segundo a 'Rolling Stone'

Mais uma lista internacional já revelada. Esta a destacar o disco lançado este ano pelos U2 como sendo o melhor de 2014...

Podem conhecer aqui os 50 discos do ano segundo a Rolling Stone.

terça-feira, novembro 18, 2014

Vhils faz um filme para os U2

Com o título Films of Innocence surgirá em dezembro uma coleção de filmes criados para as canções do mais recente álbum dos U2. Segundo podemos ler no iTunes, onde o filme está já em pré-vendas (a 9.99 euros), Films of Innocence nasceu da vontade de estabelecer contrapontos entre as canções e as visões de 11artistas urbanos que tiveram plena liberdade para criar as imagens. Entre os nomes chamados a colaborar está Vhils, que de resto assina também a "capa" do filme, na verdade uma leitura sua da imagem recentemente apresentada na versão em suporte físico de Songs Of Innocence.

Através do iTunes podem ver já o trailer deste filme.

Podem ler aqui uma notícia sobre esta colaboração na edição online do jornal Público.

segunda-feira, outubro 20, 2014

Ver + ouvir:
U2, The Miracle (Of Joey Ramone)



Os U2 lançaram finalmente um teledisco para o primeiro single que extraem do alinhamento do álbum Songs of Innocence, que na passada semana conheceu edição em suporte físico. Aqui ficam as imagens.

quinta-feira, setembro 18, 2014

Streaming ultrapassa downloads em França

Pela primeira vez em dez anos o mercado de música gravada vendida por download apresentou uma descida. Em sentido contrário, o consumo por streaming aumentou, representando este já 53% (ou seja a maioria) do volume de negócio da música digital. Para completar os números, revelados esta semana no Le Figaro, o digital corresponde neste momento a 17,5% das vendas de música em França.

Em sentido oposto ao aumento da fatia de consumo por streaming o volume geral do negócio da música em suporte de CD caiu 13,6%. A queda brusca nas vendas por download é contudo a que mais se faz sentir nos números de 2014, tendo os números totais dos seis primeiros meses revelado uma queda de 9,2% face ao período homólogo em 2013.

Segundo nota o Le Figaro, há contudo otimismo entre profissionais do mercado da música em França que esperam, com a agenda de lançamentos para os últimos quatro meses do ano, terminar com bons resultados. Recorde-se que 2013 revelou em França um aumento de volume total de negócio face a 2012 na ordem dos 2,3%.

Comentário: Estes números dão por um lado conta do evidente crescimento do consumo de música por streaming e prenunciam o que parece ser um eventual final de vida precoce para os modelos de venda por download que teve no iTunes o seu paradigma. Parece ter razão quem viu na operação de charme com os U2 uma primeira ação para manter viva a imensa nuvem de clientes que o iTunes chamou à Apple. Uma adaptação à modalidade de streaming, eventualmente com exclusivos deste calibre, talvez seja a saída por aqueles lados...

Podem ler aqui o texto do Le Figaro

quinta-feira, setembro 11, 2014

Novas edições:
U2, Songs of Innocence


“Songs of Innocence”
Island
4 / 5

Resolvi dar uns dias às canções de Songs of Innocence antes de escrever mais umas linhas sobre o novo álbum dos U2. Reagi primeiro a quente, alertando o jornal para a notícia e as primeiras palavras que fui escrevendo procuraram sobretudo dar conta do que se passara, ainda de fresco (sem saber ainda, como entretanto foi avançado, que a Apple terá pago uns 100 milhões de dólares pelo disco e que, para breve, este será acompanhado por um segundo álbum, que terá por título Songs of Experience). É sempre bom dar tempo a um disco. E das primeiras (boas) impressões que Songs of Innocence causara ficou a impressão de que poderia “crescer” com novas audições. E assim está a ser revelando, talvez, o melhor disco do grupo desde o já longínquo Zooropa (1993). 

Revigorados (e reinventados) nos anos 90 ao som dos magistrais Achtung Baby (1991) e Zooropa e com prova maior de ousadia no projeto paralelo Passengers que então floresceu por um álbum (em 1995) ao lado de Brian Eno, os U2 aproximaram-se do milénio a dar um passo atrás com o mais convencional All That You Can’t Leave Behind (2000), ensaiando mesmo em How To Dismantle an Atomic Bomb (2004) uma rota de reencontro com memórias da sonoridade dos seus primeiros discos, revelando depois sinais de alguma inquietude face à calmaria criativa entretanto instalada no mais interessante No Line on The Horizon (2009). Agora, cinco anos depois, e com um perfil de primeira linha global mais suportado pela força do palco que pela carga dos últimos discos, surpreenderam meio mundo com um álbum-surpresa. E ainda por cima gratuito (cuidado com as referências a In Rainbows dos Radiohead que não era “gratuito” por definição, já que se deixava a cada um a liberdade de pagar o que entendesse, mesmo que não pagasse nada). Não têm faltado textos a lembrar que Beyoncé também causou surpresa recente. Prefiro lembrar que antes de Beyoncé foi David Bowie quem conseguiu, na idade do Twitter, e após dez anos de silêncio, registar um disco novo sem que ninguém – nem mesmo a editora – o soubesse. 

E há mais em comum entre o álbum dos U2 e o de Bowie que com o de Beyoncé (que, vale a pena dizer, é o seu melhor disco até à data). Mas sem em The Next Day Bowie tomou sobretudo vários destinos passados da sonoridade da sua música como referencias, em Songs of Innocence os U2 procuraram também no passado as memórias, sensações e reflexões que os conduziram a um dos alinhamentos mais pessoais da sua discografia. Sinais do tempo que passa, a carga de histórias, nomes e situações são assim um valor acrescentado de quem, a fazer uma música no presente, reconhece no seu passado uma carteira de valores que não serve apenas para efeitos de nostalgia. Musicalmente Songs of Innocence é o álbum de vistas mais largas que os U2 lançam desde Pop. Do fulgor de raiz punk (mas de formas de produção bem polidas nas guitarras) que apresentam em The Miracle (of Joey Ramone) ao potencial hino de estádio com elaborada textura coral em Volcano, passando pela balada de pulsação electrónica Sleep Like A Baby, a grandiosidade clássica de California (There is No End of Love), a carga algo de Zeppeliniana do riff que define Cedarwood Road, a gastronomia new wave (com deliciosas teclas ao fundo) em This Is Where You Can Reach Me Now, a assinatura evidente da guitarra de The Edge em Song For Someone ou o magnífico dueto que Bono partilha com Lykke Li em The Troubles, fazem deste um disco de muitos caminhos que toma afinal o que foi a pluralidade de rumos que a música já antes experimentou. Ao contrário do que viveram depois de Rattle and Hum – com primeiras pistas ensaiadas na versão de Night and Day apresentada em Red Hot + Blue – desta vez os U2 não procuraram encontrar nova etapa através de um recentrar do foco das atenções nos acontecimentos na linha da frente do presente. É no passado que encontram pistas, sem as fechar contudo num foco específico de sonoridades como o promoveram ao chamar de volta Steve Lillywhite à mesa da produção há dez anos. Com uma carteira vasta de nomes em estúdio – entre eles o velho colaborador Flood (dos dias de Zooropa e Pop) ou Dangermouse – os U2 cantam sobre a sua idade da inocência num disco que junta a candura de quem partilha memórias não zangadas com rotas musicais pelas quais a sua identidade musical (e também o seu mapa de referências) partilhou vários episódios anteriores.