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domingo, setembro 06, 2020

Tricky, opus 14

O mestre do trip-hop [NPR] reaparece com aquele que será, por certo, o seu álbum mais trágico e também mais depurado: Tricky compôs Fall to Pieces depois do suicídio da sua filha, Mina Mazy, em 2019, contava 24 anos. O resultado é um 14º álbum de estúdio (o anterior, Ununiform, surgira há três anos) tem tanto de metódico trabalho de luto como de sofisticado minimalismo musical, segundo essa lógica muito pessoal em que melodia e ritmo se fundem e confundem, contaminam e reinventam. Contribuição fundamental é a voz da cantora polaca Marta Zlakowska, emprestando à dor a dimensão de um cântico redentor — aqui fica o exemplo de Fall Please.

Walk slow in rain
Big coat gold chain

Was it rain
Was it grey
Do you kneel
When you pray
And now the sun is going down
And I'm tired from the crowd
And I'm falling from the ground
And now the sun is going down
Until Jesus come

Fall please
For you
Fall please
Want to

Fall please
For you
Fall please
Want to

Was it rain
Was it grey
Do you kneel
When you pray
Was it night
Was it day
Was it pain
In our way
And now the sun is going down
And I'm tired from the crowd
And I'm falling from the ground
Until Jesus come

Fall please
For you
Fall please
Want to


sexta-feira, dezembro 22, 2017

10 DISCOS DE 2017 [2]
— Tricky

[ Arca ]

O trip hop morreu?... Longa vida ao trip hop! Enfim, a celebração não envolve nenhum belicismo, apenas um suave tom militante, tentando sugerir o que está em jogo no luminoso álbum nº 13 com que Tricky nos presenteou este ano. Ununiform não é, de facto, um panfleto, antes uma colecção de contrastes (o título não mente) através dos quais Adrian Nicholas Matthews Thaws, à beira de celebrar meio século de existência (no próximo dia 27 de Janeiro), achou por bem prolongar a sua arte de colagem e desmontagem, crueza dramática e apelo poético. Sem se esquecer de convocar os suspeitos do costume, nomeadamente a indispensável Martina Topley-Bird, e agregando, entre outros, os rappers russos Smoky Mo e Scriptonite (rezam as crónicas que a concepção do álbum começou em Moscovo). No caso de New Stole, Tricky refaz o tema Stole, de Francesca Belmonte, com colaboração da própria — é, além do mais, um dos mais belos e encantatórios telediscos do ano.

sábado, setembro 23, 2017

Tricky, opus 13

Provavelmente, na paisagem de misticismos, monumentais ou irrisórios, por onde circula o trip hop de Tricky, o lançamento de um novo álbum de estúdio, identificado pelo assombrado nº 13, seria motivo para algum tipo de ritual de purificação moral ou purga estética. Podia até ser pretexto para uma demanda do mais ancestral realismo. Desenganemo-nos: dir-se-ia assumindo os 50 anos que se aproximam (Tricky, aliás, Adrian Nicholas Matthews Thaws nasceu a 27 de Janeiro de 1968, em Bristol, Inglaterra), Ununiform é apenas uma revisão da matéria dada. Apenas? No seu minimalismo intimista, capaz de integrar tanto a habitual colaboradora Martina Topley-Bird, como os rappers russos Smoky Mo e Scriptonite, sem esquecer as vozes singulares de Asia Argento e Avalon Lurks (esta numa versão do clássico Doll Parts, das Hole), Ununiform é isso mesmo: uma colecção de temas serenamente compactos, embora disponíveis para as atribulações do disforme, nele descobrindo novos equilíbrios melódicos ou cumplicidades rítmicas.
O teledisco que serve de cartão de visita ao álbum é um pequeno prodígio: realizado por Jenny Marie Baldoz, When We Die (com Martina Topley-Bird) devolve-nos a dor e poesia das ruas de Nova Iorque, através de um registo a meio caminho entre a frieza documental e a deambulação poética — talvez seja essa, afinal, a lógica primordial dos sons do trip hop.

terça-feira, março 15, 2016

Telediscos, ma non troppo

Vale a pena regressar ao novo teledisco dos Massive Attack: quem o viu merecer algum destaque... televisivo? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (13 Março), com o título 'Telediscos do nosso descontentamento'.

No campo musical do trip hop e das electrónicas, 2016 começou com boas notícias: os ingleses Massive Attack, de Bristol, estão a trabalhar num novo álbum (a ser lançado lá mais para o final do ano), para já oferecendo-nos um EP de quatro temas, intitulado Ritual Spirit em que colaboram, entre outros, com o velho amigo Tricky.
Visualmente, a divulgação do novo mini-álbum começou com o teledisco de Take It There, precisamente a faixa em que surge Tricky, dirigido pelo japonês Hiro Murai. Nele encontramos o actor americano John Hawkes numa performance que, com contagiante ironia, combina uma estranheza quase zombie com o apelo da dança.
Entretanto, surgiu um segundo teledisco que fica, desde já, como uma das obras-primas audiovisuais deste ano. O tema Voodoo in My Blood, feito em colaboração com a banda de hip hop Young Fathers, é encenado como uma cerimónia ritual em que Rosamund Pike (a brilhante actriz inglesa que contracenou com Ben Affleck em Em Parte Incerta, de David Fincher) se confronta com uma entidade misteriosa — uma esfera que tem qualquer coisa de personagem de filme de ficção científica, ao mesmo tempo que apela a um ritmo de sedução que envolve a possibilidade de aniquilamento físico.


Filmado naquilo que parece ser uma passagem para peões do metropolitano, o teledisco, realizado pelo inglês Ringan Ledwidge, tem tanto de pequeno conto de terror (há mesmo um momento em que da esfera emerge uma assustadora arma pontiaguda) como de quadro musical dançado. Entre a esfera e a actriz vai-se desenhando uma cumplicidade estranhamente erotizada que leva as duas entidades a partilharem uma insólita coreografia.
O trabalho de Ledwidge é tanto mais interessante quanto explora as possibilidades de uma opção que, em boa verdade, está inscrita na história do cinema, mais precisamente no património do género musical (West Side Story, de 1961, pode ser uma boa referência). Trata-se de ocupar um espaço urbano, desarmante na sua indiferença realista (ou no seu realismo indiferente), para elaborar uma mise en scène que mima a delicada sofisticação de um projecto concretizado na segurança material do estúdio.
Há ainda outra maneira de dizer isto: o campo dos telediscos continua a gerar experiências fascinantes, muito para além de qualquer atitude banalmente “ilustrativa” face às matérias musicais. O facto é tanto mais desconcertante quanto o espaço televisivo (será preciso lembrar as afinidades entre as palavras “teledisco” e “televisão”?) há muito criou barreiras à sua difusão. Desde logo, porque a MTV que, historicamente, lhes serviu de palco e matriz passou a ser dominada pela avassaladora mediocridade de formatos da reality TV; depois, porque deixou de haver programas realmente empenhados em manter alguma atenção à produção regular de telediscos. A pouca visibilidade de Voodoo in My Blood é sintomática, mas não passa de uma gota de água no oceano.
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NOTA: O teledisco foi filmado numa passagem subterrânea de ligação à estação de metropolitano de Edgware Road, na zona oeste de Londres [agradeço a informação a João Cerca].

quinta-feira, janeiro 28, 2016

Massive Attack e Tricky — o reencontro

Heligoland, o quinto e mais recente álbum de estúdio publicado pelos Massive Attack, está a completar seis anos — saíu a 8 de Fevereiro de 2010. As hipóteses de um novo registo têm surgido, de forma intermitente, desde 2013, mas sem ultrapassar o domínio da especulação. Mas aí está uma novidade: podemos supor que Robert Del Naja e Grant Marshall estão mesmo à beira de qualquer coisa mais consistente, quanto mais não seja porque reaparecem, agora, aliados ao seu companheiro Tricky (que abandonou o grupo para seguir uma carreira autónoma, em 1994, depois da edição de Protection, o álbum nº 2).
Assim, Tricky participa no tema Take It There, quarta e última faixa de um EP acabado de sair e intitulado Ritual Spirit — o respectivo teledisco, realizado por Hiro Murai e protagonizado pelo actor John Hawkes, é um breve e sofisticado exercício que cruza a solidão mais cruel com o apelo da dança.